04/05/2010
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Seminário discute modelos alternativos de desenvolvimento
Em seminário que discutiu nesta terça-feira as atuais políticas de juros e de câmbio, o ex-ministro da Administração Luiz Carlos Bresser Pereira defendeu o que chamou de um novo modelo desenvolvimentista, que seria baseado na responsabilidade fiscal, com controle da dívida pública; na responsabilidade cambial, com uma taxa de câmbio competitiva, e num estado indutor de investimentos. Segundo Bresser, a determinação política do governo Lula em cumprir metas fiscais, incentivar uma política de valorização do salário mínimo e de programa sociais, como o Bolsa-Família, ao lado de gastos com educação e saúde, deram ao país um cenário de crescimento.
Ao mesmo tempo, defendeu, é necessário repensar a estratégia de desenvolvimento ortodoxa defendida hoje pela maioria dos analistas. "Defendo uma política alternativa", disse.
Para o deputado José Guimarães (PT-CE), presente ao seminário, a visão atual de Bresser se assemelha à do Governo Lula e do PT que defende o estado como indutor e planejador do desenvolvimento.
Segundo Bresser, os juros no país ainda são altos e o câmbio, hoje flutuante, deveria ter metas, como a inflação. Em sua avaliação, a atual política de juros não comete erros quando eleva ou diminui a Taxa Selic, quando é necessário fazê-lo, mas está equivocada porque mantém o nível de juros alto mesmo quando a demanda não está aquecida.
Na avaliação de deputado José Guimarães, a taxa de juros deve ser tema de um debate mais aprofundado. "O BC não faz hoje uma calibragem adequada. Quando é para baixar a taxa não leva em conta o desaquecimento da economia, e quando é para subir leva em conta exageradamente esse aquecimento", afirmou.
Marco regulatório - No seminário foi citada também a necessidade de uma maior articulação do setor privado com o setor público para aumentar o investimento em infraestrutura. Segundo o presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Armando Monteiro Neto, o Brasil precisa criar um ambiente favorável pra o investimento de longo prazo. Para isso, defendeu, é preciso ter marcos regulatórios claros e definidos de maneira a dar segurança ao investidor. Ele defendeu ainda a desoneração efetiva das exportações e a redução dos custos de insumos com a energia elétrica.
Para o deputado José Guimarães, o primeiro passo para uma parceria foi dado com a criação do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que gerou um ambiente econômico favorável. O segundo, passará por um acordo suprapartidário para estabelecer uma reforma tributária.
Ao responder um questionamento do deputado Pepe Vargas (PT-RS), presidente da Comissão de Finanças e Tributação, Monteiro Neto afirmou que o Brasil não corre risco inflacionário em relação à produção industrial. "O nível de utilização da capacidade instalada da indústria hoje é de 8% e já atingiu ¨8,4% no período pré-crise. A pressão inflacionária hoje decorre de fatores sazonais", afirmou.
Spread - Na discussão sobre os spreads bancários (diferença entre o custo de captação dos bancos e o que é cobrado dos empréstimos aos clientes), o economista-chefe da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Rubens Sardenberg, afirmou que hoje, uma pequena parcela do total do spread representa o lucro líquido dos bancos. O restante, segundo ele, se refere a gastos com inadimplência e impostos. "Apesar do spread bruto ser alto no Brasil, a margem líquida é significativamente mais baixa. A rentabilidade do setor bancário no Brasil não está desalinhada dos padrões internacionais", disse. Sardenberg disse que a redução do spread depende de uma agenda de longo prazo que envolva, entre outros, desoneração fiscal, redução de inadimplência e de seus custos, redução dos compulsórios (parcela sobre depósitos à vista que os bancos recolhem ao Banco Central) e preservação da concorrência.
Na avaliação do deputado Pepe Vargas, o seminário pretende "colocar luz sobre receitas econômicas ortodoxas e provocar o debate sobre novas alternativas para a estabilidade econômica". "Um em cada dez analistas diz que o único remédio para a inflação é o aumento de juros. O seminário pretende discutir, e publicar, modelos alternativos", disse.
Fonte: Agência Informes