13/08/2008

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Crediamigo mostra seus resultados: metade sai da pobreza em cinco anos

Metade das pessoas que entraram para o programa de microcrédito do Banco do Nordeste, o Crediamigo, conseguiu sair da pobreza em até cinco anos. É o que aponta um levantamento apresentado ontem por pesquisadores do Laboratório de Estudos da Pobreza (LEP) da Universidade Federal do Ceará (UFC). O estudo estimou uma velocidade média de saída da pobreza entre 8% e 9% ao ano durante os primeiros cinco anos de programa. Ou seja, nos primeiros cinco anos de programa em média de 8% a 9% de clientes - com renda familiar delimitada por padrões de pobreza - conseguiram ultrapassar essa situação anualmente.

Outro aspecto observado na pesquisa avalia que quanto menores os prazos de pagamento dos empréstimos iniciais, com incentivos de renovações contínuas, maior a alavancagem de renda dos clientes mais pobres. "Créditos com prazos mais curtos, com valores entre R$ 700 e R$ 800 determinaram um retorno maior que os empréstimos com prazos mais longos", explica Marcelo Teixeira, um dos pesquisadores. Ele lembra que no caso do Crediamigo não há período de carência para o início de pagamento, regra determinada na época da implantação do programa, em 1998.

A pesquisa "Saindo da pobreza com microcrédito. Condicionantes e tempo de ascensão: o caso dos clientes do Crediamigo" foi realizada por Ricardo Brito Soares (Caen/UFC), Flávio Ataliba (Caen/UFC) e Marcelo Teixeira (BNB). Os autores avaliaram também quais os fatores facilitadores para a saída da condição de pobreza. Segundo dados da pesquisa estes fatores não são diferentes dos tradicionais: maiores retornos são extraídos por aqueles mais dotados de capital humano (educação). "Um nano empresário com 1º grau completo tem probabilidade 14% maior de sair da pobreza do que um sem qualquer educação", exemplifica Soares. Também auxiliam na saída da pobreza fatores mercadológicos como ponto fixo (3%), capacidade de vender a prazo (7%) e controle administrativo pré-estabelecido (6%).

Teixeira lembra também que o banco de dados utilizado para o estudo reuniu informações dos 235 mil clientes (em 2006 - atualmente são quase 400 mil), coletadas pelos agentes de crédito. Foram então considerados os clientes ativos em 31 de dezembro de 2006, e duas condições: na entrada do programa e no último registro. Contabilizando para o total final de clientes válidos o número de 170.495 pessoas. "É importante frisar que utilizamos informações captadas para dar o crédito e não coletadas para o estudo", afirma o pesquisador.

Ele conta que outras informações importantes foram observadas durante a pesquisa. Entre elas que, apesar de 64% dos clientes do Crediamigo serem mulheres, os homens respondem por uma saída da condição da pobreza cerca de 3% maior, embora as mulheres apresentem um grau de inadimplência menor. Aliás, os pesquisadores apontaram que a inadimplência no programa é cerca de 1% no País, sendo que no Ceará este número cai para 0,7%. Para eles os resultados apontam uma viabilidade para o setor público com um programa auto-sustentável. "Também percebemos que em média os clientes cresceram a receita operacional em 30% no período analisado", diz Teixeira.

Ricardo Soares ressalta que uma das conclusões apontadas pelo estudo é que vale a pena investir no pobre e melhorar seus atributos e condições básicas, características que influem diretamente na melhoria de vida do pobre empreendedor.

SAIBA MAIS
Para determinar a saída da pobreza foram utilizadas três linhas de renda utilizadas no Brasil. A primeira, de meio salário mínimo é utilizada como padrão internacional e como referência para alguns programas governamentais. A segunda elaborada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), além de usar como referência o salário mínimo, leva em consideração os padrões de vida diferenciados entre os estados. A terceira, construída pela Fundação Getúlio Vargas, também faz diferenciação entre os padrões de vida entre regiões, mas ela é condicionada pelas necessidades nutricionais.
Fonte: Jornal O Povo (13-08)