20/11/2020

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[ARTIGO] As esquerdas e as eleições de 2020

Os dados das eleições municipais do dia 15 mostram que o grande derrotado foi o presidente de ultradireita Jair Bolsonaro e seus militantes contrários à democracia, à tolerância e à civilidade.  Na esteira do não à intolerância, o povo também removeu do cenário nomes importantes da ultradireita, verdadeiros paraquedistas políticos que surgiram nas eleições de 2018, na onda das fake news e mentiras espalhadas pelo bolsonarismo e pelo ex-juiz Sérgio Moro, que também teve papel central – e sórdido - nas eleições presidenciais.

Todo o processo merece uma criteriosa análise, não as abordagens superficiais que têm predominado na mídia tradicional com o costumeiro viés político e ideológico. Lamentavelmente, os analistas de sempre, focados no combate à esquerda, em especial ao PT, cometem os mesmos erros. Nem se ruborizam quando afirmam que o PT foi derrotado, evidenciando o desejo deles de ver o partido fora do jogo e como força influente no campo da esquerda. 

Outra balela é a insistência na tecla de que os extremos foram derrotados. O derrotado foi Bolsonaro, com as políticas ultraliberais que implementou com a ajuda da centro direita, causando os estragos econômicos e sociais que o Brasil presencia.

Distorções midiáticas

Em 2016, o PT enfrentou campanha difamatória midiática, o impeachment fraudulento de Dilma Roussef e a perseguição promovida por Moro contra Lula para tirá-lo do pleito presidencial que iria acontecer dois anos depois. Neste ano, a votação em candidatos e candidatas do PT em 25 capitais e 70 cidades com mais de 200 mil eleitores aumentou 20% em relação a 2016.

Em 2020,  das 57 cidades que terão segundo turno para uma vaga à Prefeitura, a legenda tem candidatos disputando em 13 municípios de médio porte e em duas capitais (Vitória e Recife). É o partido com mais representantes no pleito, à frente de forças de centro-direita e da extrema direita. O PT tem ainda candidatos a vice em Porto Alegre e Belém. Embora o balanço final do processo eleitoral só seja possível a partir do resultado do segundo turno, os números preliminares já permitem uma razoável radiografia política e eleitoral do País.

Apesar de setores da mídia tradicional e do Judiciário insistirem com ataques calculados e contínuos  contra o PT, os números parciais evidenciam que o partido reafirma seu papel como a maior força política de esquerda e do campo popular no Brasil. Unido com outros partidos de esquerda, contribuiu para derrubar o bolsonarismo neofascista.  Mostrou resistência e resiliência. Manteve-se sólido. 

Nas eleições majoritárias, em 2016 o PT teve 6.843.575 votos; neste ano, 6.971.136 votos. O partido está presente em todos os grandes centros urbanos, ao contrário de 2016, quando estava no auge a perseguição midiática e judicial contra a agremiação e Lula. 

Defesa de Lula

A campanha deste ano foi altamente politizada, centrada na defesa do partido e do seu legado positivo durante os governos Lula e Dilma. E Lula foi defendido ao longo de toda a campanha, diante das perseguições e manipulações absurdas da Lava Jato. 

Reposicionamos a legenda, tivemos a oportunidade de falar ao País sobre o nosso projeto de desenvolvimento econômico com distribuição de renda, justiça social e em defesa do meio ambiente e dos interesses nacionais. Num momento de pandemia de Covid-19, o partido defendeu vigorosamente o SUS e denunciou a tentativa de sua privatização pelo governo Bolsonaro.

O balanço mostra que o partido sai fortalecido nos grandes centros urbanos e, de modo geral, com desempenho bastante satisfatório mesmo onde perdeu. Em Fortaleza, teve 18% dos votos, em Salvador, 19%, em Manaus, 15%, em Natal, 15%.  

É preciso reconhecer que legendas de centro-direita como DEM, PSD e PP cresceram em número de prefeituras, diante do encolhimento do conjunto dos outros partidos. Contudo, não procedem análises que mostram que os vencedores de 2020 serão os mesmos de 2022. Eleição municipal é uma coisa, para presidente da República, outra. São momentos e conjuntura no País diferentes. 

União da Esquerda 

Os partidos aliados do campo da esquerda também têm desafios importantes no segundo turno: O PSOL, em São Paulo e Belém, o PDT, em Aracaju e Fortaleza, e o PCdoB, em Porto Alegre, todas capitais estratégicas. E a unidade da esquerda neste momento será decisiva para um ótimo desempenho no segundo turno. 

Essa unidade da esquerda será vital também para o enfrentamento à crise econômica e social pós-eleição, já que as previsões são sombrias. Se a centro-direita teve desempenho satisfatório nas eleições municipais deste ano, certamente  não terá resposta para a crise que se vislumbra, já que é refém de uma cartilha neoliberal que só aprofunda a miséria e a desesperança no País, com o ministro da Economia, Paulo Guedes, à frente do processo. 

Em 2021 as forças de esquerda precisam calibrar um discurso e uma proposta para tirar o Brasil do atoleiro fabricado pela elite econômica e conservadora que hoje está envergonhada com a sustentação dada a Bolsonaro em 2018.  

União contra o neoliberalismo- Cabe agora à esquerda e às forças democráticas e progressistas sentarem à mesa e começar a traçar uma estratégia.  O desafio é estabelecer a unidade, a qual garantiu vitórias políticas importantes no primeiro turno, para prosseguir o ciclo vitorioso na segunda rodada eleitoral  nas maiores cidades do País. 

A unidade do campo da esquerda é vital para enfrentar o neoliberalismo defendido pelos partidos de centro-direita e pelos neofascistas bolsonaristas. O liberalismo não tem futuro no Brasil e em nenhum lugar do mundo, já que é refratário a qualquer política de distribuição efetiva de renda. A união nos levará à vitória e à construção de um país mais justo e igualitário.

Publicado originalmente no portal Brasil 247 em 18/11/2020.