04/10/2011
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A ONU no jogo, por Alexandre Padilha
Líderes mundiais estiveram reunidos em Nova York em encontro de alto nível convocado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para discutir o enfrentamento às doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). Desde a criação da ONU, em 1945, esta é a terceira vez que a saúde entra na pauta de discussões dos chefes de Estado, o que representa oportunidade para o engajamento global na luta contra enfermidades como câncer, diabetes e problemas cardiovasculares.
É evidência da importância dada ao enfrentamento destas doenças, que são responsáveis por 63% das mortes precoces em todo o mundo. Sob a liderança da Organização Mundial da Saúde (OMS), os governos decidiram trabalhar para definir recomendações e metas globais para prevenção e controle destas enfermidades e construir um acordo, a ser implantado a partir do ano que vem.
O Brasil tem cerca de 750 mil mortes por ano por conta destas doenças, o que equivale a 72% do total de mortes, com destaque para problemas cardiovasculares (31,3%), câncer (16,2%), doenças respiratórias crônicas (5,8%) e diabetes mellitus (5,2%). Em comum, estas doenças têm fatores de risco modificáveis, como o tabagismo, o consumo nocivo de bebida alcoólica, a inatividade física e alimentação inadequada. Somam-se os determinantes sociais, ou seja, as desigualdades de renda, a baixa escolaridade e a falta de informação.
Avanços recentes do Sistema Único de Saúde provocaram a redução de 20% na mortalidade por estas doenças ao longo da última década no Brasil.
É fundamental garantir o acesso ao tratamento. Desde janeiro, o Brasil triplicou a oferta de remédios de graça distribuídos em mais de 20 mil farmácias em todo o país, beneficiando mais de 5,4 milhões de pacientes.
Na prevenção, é preciso mobilizar todos a adotarem hábitos mais saudáveis. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) está estimulando as operadoras de planos de saúde a concederem descontos nas mensalidades para usuários que aderirem a programas de hábitos saudáveis e acompanhamento permanente com foco em prevenção de doenças.
Pelos custos gerados às famílias e aos sistemas de saúde e pela paralisia criada no setor produtivo, estas doenças têm elevado impacto econômico, conforme aponta estudo do Banco Mundial, que estimou em 20 milhões de anos produtivos de vida as perdas dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) com estas doenças.
O êxito obtido nas outras duas vezes nas quais a ONU destinou sua atenção aos temas da saúde, culminando na mudança de paradigmas para a prevenção e o tratamento da poliomielite e da Aids, nos deixa otimistas.
Alexandre Padilha é ministro da Saúde.
Texto originalmente publicado no jornal O Globo, edição de 03/10/2011