02/02/2009
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Obama, Simbolismo e Política
Neste mês de janeiro, o mundo assistiu à posse de Barack Obama como presidente dos Estados Unidos da América. Notadamente revestida de simbolismo, a ascensão de um negro ao posto de maior mandatário da nação mais poderosa do planeta suscita todo de tipo de expectativas.
Eleito com o slogan "change" ou "mudança", Obama parafraseou a presidente Lula quando disse, na posse: "A esperança venceu o medo". O simbolismo desse fato histórico perpassa o debate racial, na medida em que milhares de negros e latinos repetiam, durante a corrida eleitoral, "sim, nós podemos". Uma clara expressão para avançar na superação da discriminação racial que nos últimos 50 anos, desde Martin Luther King e outros lutadores, tem mobilizado multidões no chamado ativismo pelos direitos civis.
Como a política é feita de símbolos, vale salientar que a alternativa Obama foi a demonstração de que a sociedade dos Estados Unidos percebeu que este advogado, inteligente e de bom discurso, reúne as condições políticas para reanimar o sonho americano e restaurar a imagem internacional deles, tão desgastada pelas guerras e pelo desmantelamento da economia mundial.
A posse de Barack Obama significa o fim de um paradigma, o da supremacia da economia de mercado, com sua "mão invisível", e da fragilização do controle do Estado. Desde Ronald Reagan e Margareth Thatcher até o desastre chamado George W. Bush, esta é a chance de um novo modelo, em que a globalização da economia não seja superior ao poder de regulação do Estado. Com Obama, surge uma real possibilidade de revalorização da política como espaço de negociações, consensos e dissensos, mas, fundamentalmente, como o lugar democrático no qual se constroem soluções para esta grande invenção da humanidade, chamada estado.
O discurso de posse do novo presidente americano foi na direção da unidade interna para enfrentar a crise sistêmica de proporções alarmantes. Ainda assim, as bolsas continuaram em queda mundo afora. Mas o recado foi claro: "Sem um olhar atento que o vigie, o mercado pode sair do controle". Para o comportamento consumista dos americanos, sentenciou: "O que se exige de nós, agora, é uma nova era de responsabilidade conosco, com o nosso país e com o mundo". Comenta-se que o endividamento dos americanos chegou a U$ 48 trilhões, enquanto o PIB mundial é de U$ 55 trilhões, o que é insustentável.
Já os gestos do dia seguinte deram um tom alvissareiro, com o anúncio do fechamento de prisão criada na base militar de Guantánamo, a retirada das tropas americanas do Iraque e a entrada na negociação pela paz na Faixa de Gaza. Não convém, todavia transformar Obama em mito, até porque ele apenas escreve com a mão "esquerda", mas novos horizontes se abrem para a correlação de forças internacional. O Brasil e o presidente Lula estão apostos para pautar uma nova agenda, com uma constatação: "as saídas para os problemas do mundo passam pela política".
José Guimarães
Advogado e Deputado Federal – PT /CE