16/06/2006
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Lula: A Força de uma História
Percebemos nas recentes pesquisas de intenção de voto um fortalecimento de Lula e uma queda dos outros candidatos, abrindo-se a possibilidade real, caso o PMDB não lance candidato, de haver a reeleição em primeiro turno.<br /> <br /> Ultimamente, temos observado uma movimentação atípica dos políticos brasileiros. Vemos os caciques do PSDB e PFL terem seus nervos aflorados nos debates políticos, inclusive os que envolvem temas da competência exclusiva do poder Legislativo. Espera-se que o bem comum esteja acima das questões partidárias e eleitorais, as quais não podem reger as políticas públicas.<br /> <br /> Ao assistir às seções do Senado Federal, casa onde estão aqueles que realmente conduzem a vida política de seus respectivos partidos, pressupõe-se que deveria existir debate do mais alto nível, mas vemos alguns senadores direcionarem o debate para questões de cunho pessoal utilizando inclusive adjetivos pejorativos. Perdeu-se, inclusive, o respeito às instituições públicas de nossa sociedade e Estado, como a Presidência da República. Além do inadequado vocabulário utilizado, enxergamos certo tom autoritário, através do qual se tenta impor a verdade pelo alto volume da voz e não pela via do debate político e democrático, que deveria ali encontrar seu clímax. <br /> <br /> <b>O que leva a toda essa deturpação da democracia política brasileira?</b><br /> <br /> Sem dúvida alguma, o principal motivo desse alvoroço está na falta de sucesso das táticas desses partidos, PSDB e PFL, em enfraquecer eleitoralmente o presidente Lula, através de uma onda denuncista sem precedentes na história política do Brasil. <br /> <br /> Percebemos nas recentes pesquisas de intenção de voto um fortalecimento de Lula e uma queda dos outros candidatos, abrindo-se a possibilidade real, caso o PMDB não lance candidato, de haver a reeleição em primeiro turno. Para entender esse cenário que está desenhando-se, primeiramente é importante relembrar alguns fatos e atitudes políticas ocorridas há não muito tempo na vida eleitoral do país.<br /> <br /> Lembramos muito bem que às vésperas da escolha do candidato à Presidência da República pelos partidos, em 2002, uma certa personagem política surge com surpresa, movida pela força e carisma próprios da feminilidade, a senadora Roseana Sarney. Essa novidade pôs em cheque a candidatura do tucano José Serra, pois nas pesquisas de intenção de voto existia uma tendência crescente do nome da maranhense. Entra em jogo a metodologia tucana. Houve um ataque pesado e direto na vida pessoal da pré-candidata envolvendo sua credibilidade e vida pessoal, pois foi acusada, ao lado de seu marido, de ter atitudes ilícitas, isso porque a Polícia Federal encontrou razoável quantia em dinheiro no cofre residencial do casal.<br /> <br /> Após a explosão do fato, o qual tomou conta dos principais noticiários com ampla cobertura, a candidatura a presidente de Roseana deteriorou-se rapidamente, abrindo espaço para que Serra conseguisse mais votos. Ocorre que algo saiu do planejado: o rompimento da aliança que elegeu, sustentou e reelegeu Fernando Henrique Cardoso, a aliança PSDB-PFL. Isso influenciou diretamente a posterior derrota da candidatura governista.<br /> <br /> Nas mesmas eleições, outro fato semelhante ocorreu. Na metade de agosto de 2002, após o início do programa eleitoral gratuito de televisão, o candidato Ciro Gomes começou a despontar com favoritismo para superar Lula, fato que contrariou os tucanos. Após divulgação de um empate técnico entre Ciro e Lula e a possibilidade real de vitória do primeiro, pelo crescimento de sua campanha, novamente a metodologia tucana entra em cena através de uma real colaboração do próprio Ciro. Este foi flagrado sendo altamente arrogante com um ouvinte em programa de rádio na Bahia, onde estava acompanhado pelo então candidato a senador, Antônio Carlos Magalhães, que compunha o “núcleo duro” no governo FHC. Logo que as imagens foram divulgadas, Ciro caiu vertiginosamente nas pesquisas, inviabilizando definitivamente suas pretensões eleitorais de chegar ao Palácio do Planalto. Mais uma vez os tucanos conseguiram seus objetivos.<br /> <br /> Em nenhum desses momentos, foi priorizado um debate político convincente que nos levasse à convicção de que José Serra fosse o melhor nome para conduzir o país nos quatro anos subseqüentes. A ação colocada em prática foi de baixíssimo nível, mostrando que o jogo político sujo foi prioridade frente a uma proposta de agenda positiva de desenvolvimento social e econômico que pudesse dar vitória ao candidato. A utilização de meios escusos mostra o esvaziamento do discurso político do tucanato, ao mesmo tempo transparece o desespero, levando-os a praticar ações que, a todo custo, não sejam derrotados eleitoralmente.<br /> <br /> A mesma metodologia foi utilizada durante o governo Lula, na tentativa de enfraquecê-lo a ponto de um impeachment que pudesse reduzir o tempo da ausência tucana na máquina federal. <br /> <br /> Prova disso foram as denúncias envolvendo o ministro José Dirceu, primeiramente no caso Waldomiro Diniz e mais tarde com as denúncias feitas pelo então deputado Roberto Jefferson. Veio ao chão um dos pilares de sustentação do Governo Lula, o forte ministro da Casa Civil.<br /> <br /> Após as denúncias do deputado Jefferson, como forma de tirar do foco as denúncias reais que surgiram nos Correios, a oposição achou o ingrediente que faltava para novamente pôr em prática suas técnicas. Iniciou-se assim uma nova onda de denuncismo que, ora baseado em fatos verdadeiros ora em fantasias, forçava uma instabilidade do governo. Mas desta vez o plano não foi concretizado, pois em vez de aproveitar a situação e insatisfação popular com os substantivos criados, como mensalão, provocando a derrocada do presidente Lula, preferiram sangrar o governo até as eleições de 2006. Essa tática foi a mesma utilizada por volta da segunda metade dos anos 80 no governo de Ronald Regan, nos Estados Unidos. Lá a oposição democrata tentou levar a onda denuncista até as eleições de 1988, mas Regan conseguiu recuperar-se e reeleger-se em primeiro turno.<br /> <br /> Com as cassações de Dirceu e Jefferson, muitos pensavam que tudo voltaria ao normal, mas a “Central de Inteligência Tucana” conseguiu “descobrir” fatos comprometedores contra uma das únicas forças unânimes do governo Lula, o ministro da Fazenda, Antônio Palocci. Após negar a participação nas festas da chamada “República de Ribeirão Preto”, o surgimento das afirmações e a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo fizeram cair o regente da recuperação econômica brasileira. Com ele, caiu o presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Matoso.<br /> <br /> Já durante este ano, há poucas semanas, após perceber crescimento que comprometeria a candidatura de Geraldo Alckmim, coincidentemente surgiram indícios concretos de desvio de verba pública para campanha do então pré-candidato à Presidência pelo PMDB, Antony Garotinho, que, desesperando-se, decretou uma greve de fome, enterrando de vez qualquer possibilidade da viabilização de sua candidatura. Sem citar que logo após a escolha de Alckmim apareceram certas denúncias contra sua credibilidade e de sua esposa Lu Alckmim, como por exemplo, o caso Nossa Caixa e o dos vestidos.<br /> <br /> Percebemos, após citar diversos exemplos, que durante esses últimos quatro anos de derrotas sucessivas dos tucanos, uma certa metodologia foi utilizada várias vezes e sempre com o mesmo intuito de derrubar alguma peça que pudesse comprometer o projeto de continuidade ou retorno do PSDB ao Palácio do Planalto.<br /> <br /> Apesar das denúncias contra as figuras governamentais e o PT, o presidente Lula continuou com sua credibilidade inabalável frente à opinião pública. Deste modo, cabe-nos refletir por que a tática tucana não produziu os resultados almejados em relação a Lula.<br /> <br /> Não há dúvida de que algo realmente existe e move a opinião pública a não condenar o presidente em relação às denúncias. E justamente esse algo é que incomoda a cúpula dos tucanos e pefelistas, levando-os a agir da forma exposta ao longo deste texto.<br /> <br /> Dificilmente achamos trajetória de vida semelhante à de Lula. Nordestino, movido a migrar com sua mãe para São Paulo à procura do pai e de melhores condições de sobrevivência, que em Garanhuns, interior de Pernambuco, eram péssimas. Após muito sacrifício, consegue concluir o curso técnico de torneiro mecânico. Através do movimento sindical do ABC paulista surge na política, onde consegue diferenciar-se e galgar grande projeção e tornar-se deputado federal. Em 1989, chega ao segundo turno na primeira eleição presidencial direta após mais de 20 anos de regime ditatorial. Torna-se, a partir daí, a principal referência oposicionista e popular na luta contra a classe conservadora e dominante. Nas eleições seguintes, acumula duas derrotas sucessivas para presidente. Durante esse período, percorre o Brasil com as caravanas da cidadania. Em 2002, torna-se o estadista com maior quantidade de votos proporcionais eleito no mundo e, vencendo todos os preconceitos, consegue obter, como seu primeiro diploma, o de Presidente da República Federativa do Brasil.<br /> <br /> Sem dúvida alguma, Lula é protagonista de uma história realmente inconfundível e, por ter uma vida envolvida e inserida diretamente nos movimentos sociais, ter sentido na pele o sofrimento da maioria dos brasileiros, consegue superar todos os ataques e ressurgir no cenário político eleitoral.<br /> <br /> Claro que apenas sua história não fundamenta toda essa superação, mas somados a essa estão os excelentes resultados obtidos pelo governo, que influenciam diretamente na vida cotidiana das classes mais pobres que há muito tempo estão excluídas dos programas governamentais. Projetos que modificam drasticamente a estrutura conservadora posta em prática a partir de Fernando Collor, com o surgimento do neoliberalismo, levado ao mais alto grau pelo governo FHC, o qual pôs em prática a desestruturação total do Estado e criação do “estado mínimo”, onde o mercado, a iniciativa privada, a burguesia tomariam as decisões e o Estado apenas regularia as relações entre o privado e a sociedade. Esse modelo põe em cheque a real função do ente estatal, lutar pelo bem comum e pelos anseios de todos, sem exclusão. Locke e Rousseau foram apagados da compreensão daqueles que conduziram esse processo privatizionista, pois o intervencionismo estatal, único competente para regular as relações sociais, foi comprometido pelas forças políticas à direita.<br /> <br /> Lula inverte essa relação de forças, não de modo irresponsável, mas obedecendo ao devido processo legal exigido pelas instituições mundiais. Redireciona o poder que estava sendo transferido à iniciativa privada - através da emenda constitucional número 19, de autoria do governo FHC – e que é próprio da função estatal, inclusive contemplado nos princípios constitucionais de nosso ordenamento jurídico.<br /> <br /> O presidente blinda-se e desponta como favorito nas eleições deste ano enfrentando as dificuldades, pregando a sinceridade, desencastelando-se e dirigindo-se diretamente ao povo. Isso sim o credencia, enfurecendo assim a classe conservadora e detentora da maior parte da riqueza nacional.<br /> <br /> <br />