01/06/2006
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De Coração. No Ceará, doação é sentença de vida
O transplante cardíaco nasceu do estudo, em terra norte-americana, do médico sul-africano Christian Barnard, que, em dezembro de 1967, executou o primeiro transplante cardíaco inter-humanos na África do Sul.<br /> <br /> Aqui em nosso Estado, essa modalidade médica iniciou-se em 7 de janeiro de 1999, por meio das mãos do médico Juan Alberto Mejia, que esteve presente em 99% dos transplantes cardíacos realizados no Hospital de Messejana, que já comemora o 100º transplante.<br /> <br /> Graças à dedicação, competência e profissionalismo da Unidade de Transplante e Insuficiência Cardíaca, o Hospital de Messejana, apesar de todas as dificuldades, é uma das referencias nacionais na área de transplantes cardíacos, obtendo a marca de segunda instituição brasileira que mais promoveu cirurgias de transplante de coração no ano de 2004, ficando atrás apenas do Instituto do Coração de São Paulo, o Incor.<br /> <br /> Desempenho que pôs o Ceará em lugar de destaque. O número de transplantes realizados aqui só é superado por São Paulo, que possui 12 centros, enquanto aqui apenas um. Outra diferença entre os centros de transplantes paulista e cearense é o público atendido. Em nosso Estado, o perfil geral é de pessoas desempregadas ou aposentadas, com baixa escolaridade, idade já mais avançada e renda mensal de até um salário mínimo. Em São Paulo os grandes centros têm perfil de classe média e de maior escolaridade, facilitando muito o tratamento pós-operatório.<br /> <br /> Outro destaque de nosso hospital está na execução de transplante pediátrico, que representa uma média de 10% dentre os transplantes cardíacos. Apenas o Incor, em São Paulo, e o Hospital de Messejana fazem esse tipo específico de cirurgia.<br /> <br /> Essas marcas só foram alcançadas pela obstinação e liderança da equipe multidisciplinar da Unidade de Transplante e Insuficiência Cardíaca, composta por 40 profissionais de diversas áreas, como odontologia, psicologia, enfermagem, assistência social e nutrição. Isso mostra a transversalidade e complexidade desse tipo de cirurgia que apenas pode ser posta em prática por pessoas que, além do profissionalismo, tenham grande respeito pelo valor humano, pois lidam com pessoas em estado de fragilidade física e psíquica.<br /> <br /> Mas precisamos fazer um alerta para que não percamos essa marca, alcançada após muito esforço e dedicação. No ano de 2004, foram realizadas 24 cirurgias; em 2005 esse número tem uma queda chegando a 16 transplantes; e neste ano já foram realizadas 4 operações. Desde o mês de fevereiro não foi efetivado mais nenhum transplante, por carência de doadores.<br /> <br /> Precisamos urgentemente unir forças, poder público e sociedade em geral, para garantir o direito à vida àqueles que necessitam de transplantes de coração. O Estado não pode escusar-se de sua responsabilidade. Os sistemas de saúde, municipal e estadual, por meio de seus órgãos, precisam dar-se as mãos para lutarem juntos contra essa carência de doadores. <br /> <br /> É necessário jogar por terra o preconceito, o medo e a apreensão sobre esse tema. Nossa legislação, estritamente rígida sobre esse assunto, não permite que alguém tenha sua vida retirada para ter seus órgãos doados. Para isso, é necessário um laudo de dois médicos, sendo um deles obrigatoriamente neurologista, que por meio de exames específicos e detalhados, detecte a morte encefálica da pessoa. A doação só pode ser efetivada com a presença desse laudo, em conjunto com a autorização da família do potencial doador, e não mais apenas com uma indicação que era feita na Carteira de Identidade.<br /> <br /> É necessário também um tratamento específico para aquele que é declarado em morte encefálica, para garantir a manutenção adequada desse como potencial doador. Esse tipo de profissional especializado deve estar presente, pelo menos, na maior emergência do Estado, o Instituto José Frota. Dados mostram que é do IJF que saem 99% dos doadores.<br /> <br /> Hoje 70% dos transplantes não são efetivados. Em mais da metade desses casos, por causa de contra-indicações médicas; ou seja, o órgão deixa de ser aproveitado por falta de preparo, negligência ou falta de cuidado por parte da equipe médica que assiste o doador. É lamentável a constatação de que, enquanto existe uma fila de pessoas que possuem alguma cardiopatia e estão à espera de um coração, a falta de profissionais especializados foi causa de 90, dentre 164 doações não efetivadas.<br /> <br /> É importante ressaltar que o Governo Federal, através do Sistema Nacional de Transplantes, órgão responsável pela regulação das centrais de transplante do Brasil, disponibiliza verba distinta para essa modalidade ser desempenhada no Sistema Único de Saúde, o SUS, e caso essa verba não seja utilizada, é devolvida aos cofres públicos, como vem ocorrendo por falta de doadores.<br /> <br /> Todas as condições estão postas. Basta um maior esforço para juntos conscientizarmos a população e darmos condições efetivas para não perdermos potenciais doadores. <br /> <br /> Outra técnica que merece maior atenção é a utilização de corações artificiais, que auxiliam no tratamento de cardopatia grave, dando uma sobrevida aos pacientes. Quero reforçar o desejo da equipe da Unidade de Transplante em adquirir certa quantidade desses corações, que têm preço unitário de US$ 16.000,00. Gostaria também de ressaltar a presença do Hospital de Messejana na participação do desenvolvimento de novas técnicas para os transplantes, como as células tronco e o laser.<br /> <br /> Venho mais uma vez pedir ao Governo do Estado do Ceará e à direção do Hospital de Messejana que cada vez mais possa investir nessa área, pois estou convicto, após conhecer, inclusive pessoalmente, tendo em vista a doença acometida ao meu pai recentemente, que possuímos pessoal altamente qualificado para essa área médico-cirurgica, sendo apenas necessário mais apoio político e estrutural.<br /> <br /> Precisamos engrandecer cada vez mais essa instituição pública para, inclusive, garantirmos esse mesmo atendimento às gerações futuras e transformarmos o Hospital de Messejana em um centro divulgador de novas técnicas, e não só em um hospital de doação, mas também de prevenção.