05/05/2005
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851 dias de muito trabalho, sim senhor
O professor Marco Antonio Villa publicou neste jornal, no dia 24 de abril, um artigo intitulado "Os trabalhos e os dias" (pág. A3), em que faz duro ataque ao trabalho do presidente Lula, a partir de um estudo realizado, segundo ele, sobre a agenda presidencial. As conclusões que o autor tira de sua "análise" levariam a pensar que o presidente Lula seria pouco dado ao trabalho, com pouco interesse pela gestão pública ou pelo conhecimento da realidade de seu país.<br /> <br /> O que mais impressiona, em se tratando de um artigo de um professor de história de uma das mais respeitáveis universidades deste país (UFSCar), é exatamente o descuido da pesquisa, do cuidado ao levantar os dados para tirar conclusões que pudessem fundamentar uma crítica honesta.<br /> <br /> Apenas para dar um dado desse descuido: no dia em que o articulista afirma que o presidente Lula teria recebido, como única programação de trabalho, o presidente do Clube do Choro de Brasília, 12/1/04, o presidente da República estava exatamente em Monterrey, no México, participando da Cúpula Extraordinária das Américas, em mais um esforço incansável pela integração de nosso continente americano. Se o professor tivesse analisado com um mínimo de cuidado a página eletrônica da Presidência, veria que a agenda do dia estava sendo cumprida pelo vice-presidente. E, com um pouco mais de honestidade, teria informado aos leitores que, além de indicar a reunião com o jornalista Henrique Filho, a agenda aponta dois despachos internos, às 9h e às 15h, que constituem exatamente espaços em que são chamados ministros e auxiliares de governo para a discussão dos assuntos de gestão de governo tão reclamada no artigo do referido professor.<br /> <br /> Essa "barrigada" -que infelizmente encontrou repercussão num dos editoriais de outro importante jornal da capital paulista- apenas ilustra a pressa em fazer uma crítica sem o necessário e, insisto, honesto cuidado de observar a realidade, como prega a mais elementar regra da análise científica.<br /> <br /> Tivesse o professor o mínimo cuidado em consultar o Gabinete Pessoal do presidente, certamente receberia informações que o levariam a uma conclusão oposta à que apresenta: o presidente Lula pode receber toda a sorte de crítica e discordância a respeito do seu estilo de governar ou do resultado de seu governo, mas os dados objetivos demonstram que se trata de um presidente que trabalha, e trabalha muito.<br /> <br /> Bastaria ao professor, se não quisesse falar com os chamados "funcionários de confiança", conversar com os insuspeitos profissionais de imprensa que cobrem diariamente as atividades do presidente; poderia falar com pessoal de carreira aqui do Planalto, com o pessoal da segurança, com gente que está há 20 ou 30 anos neste Palácio e pedir a todos uma comparação entre o ritmo de trabalho deste governo e o de todos os seus antecessores. Quero, aliás, convidar o professor para que passe alguns dias conosco aqui no Planalto e testemunhe um trabalho intenso, que se inicia às 9 horas da manhã e se prolonga, muitas vezes com um almoço de trabalho realizado no próprio Palácio, até as 21h, 22h.<br /> <br /> O professor poderia saber, além de tudo, que a agenda do presidente tem, sim, um planejamento cuidadoso. Saberia que um grupo especial a discute, buscando equilibrar uma agenda propositiva com uma de resposta às demandas. Saberia que temos consciência de que a agenda deve espelhar as opções de um governo e a realização de seu programa. Por isso que o presidente Lula foi o primeiro presidente da história a comparecer a um quilombo, a comparecer a um acampamento de sem-terras, a celebrar o seu Natal nos últimos dois anos com os moradores de rua.<br /> <br /> E o professor poderia saber também, se conversasse com o reitor da UFSCar, que este presidente operário é o primeiro da história de seu país a receber, por duas vezes, o conjunto dos reitores das universidades públicas brasileiras. Mas poderia também o professor perguntar aos empresários brasileiros se em algum momento outro governo abriu tanto sua agenda para um diálogo com o setor produtivo do país. Se analisasse com um pouco mais de cuidado nossa agenda, veria que o presidente Lula já visitou mais países da até então esquecida África do que o conjunto de seus antecessores; que visitou os países árabes e, a partir de sua visita, nossas exportações viveram uma belíssima expansão... Saberia que o presidente, nestes 851 dias, realizou 142 viagens pelo interior do país e 47 viagens internacionais; que o presidente realizou oito reuniões gerais com os 27 governadores -fato inédito na história do país-, além de ter estado em cem outras ocasiões com governadores.<br /> <br /> A afirmação de que o presidente Lula não se reúne com seus auxiliares para estudar e conhecer os problemas do país só pode estar baseada num velho e conhecido preconceito de que um operário não se interessa pelo conhecimento, porque o exame da agenda não permite tal conclusão: o presidente Lula dirige com punho forte seu governo e faz reuniões diárias de trabalho, com ministros, sobre os mais variados temas.<br /> <br /> Poderia o professor ser informado, se tivesse o cuidado do diálogo, de que, ao receber qualquer ministro, governador, líder social ou empresarial, o presidente Lula tem em suas mãos um estudo sobre a pauta a ser discutida, notas técnicas elaboradas por sua assessoria a respeito de cada tema, as referências aos temas tratados na última ocasião em que o interlocutor o visitou. Saberia ainda que o presidente lê com cuidado todos os subsídios, exigindo precisão de sua assessoria, que foi induzida a criar um centro de gestão, ferramenta informatizada que permite agilidade no processamento da informação e é fruto de pesquisas realizadas com as presidências de países como França, Chile, Estados Unidos e Inglaterra.<br /> <br /> Enfim, toda crítica é bem-vinda. Desde que leve em conta a realidade e não seja manipulação de dados para dar base ao preconceito e à má vontade. Ironicamente, o professor que critica a falta de trabalho, se tivesse trabalhado com um pouco mais de afinco e cuidado, evitaria tantas inverdades. <br /> <br /> ARTIGO PUBLICADO NA FOLHA DE SÃO PAULO