14/10/2004
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A dignidade do presidente e o respeito ao Brasil
Há um evidente exagero e até mesmo uma distorção da natureza dos fatos nas análises que sustentam que a suspensão do visto temporário do jornalista do "The New York Times" representa uma agressão à liberdade de imprensa no Brasil. <br /> <br /> É também um despropósito supor que a adoção dessa medida representa um primeiro ato de uma escalada crescente de intimidação de jornalistas e de uma caminhada rumo a medidas arbitrárias.<br /> <br /> Os Estados Unidos não deixam entrar legalmente em seu território pessoas de outros países, inclusive vários brasileiros, e agora o seu governo e os seus jornais querem dar lições de democracia e de liberdade para o Brasil. <br /> A dignidade do presidente e o respeito ao Brasil<br /> <br /> Há um evidente exagero e até mesmo uma distorção da natureza dos fatos nas análises que sustentam que a suspensão do visto temporário do jornalista do "The New York Times" representa uma agressão à liberdade de imprensa no Brasil. É também um despropósito supor que a adoção dessa medida representa um primeiro ato de uma escalada crescente de intimidação de jornalistas e de uma caminhada rumo a medidas arbitrárias. <br /> <br /> Os Estados Unidos não deixam entrar legalmente em seu território pessoas de outros países, inclusive vários brasileiros, e agora o seu governo e os seus jornais querem dar lições de democracia e de liberdade para o Brasil. O próprio "The New York Times" comprovou a existência da ampla liberdade de imprensa existente no Brasil e sob o governo Lula quanto sua equipe fez uma reportagem sobre o governo e sobre o PT acompanhando, inclusive, viagens do presidente. Todos os documentos, todas as informações solicitados pela equipe foram fornecidos tanto pelo governo, quanto pelo PT. <br /> <br /> Os jornalistas do "The New York Times", como os jornalistas de qualquer jornal estrangeiro ou nacional, continuarão tendo toda a liberdade que sempre tiveram para informar e criticar o governo. O governo Lula e o PT são compostos por pessoas que foram buscar nas ruas, nas praças e nos porões da ditadura o direito de liberdade de imprensa. Somente pessoas que não lutaram contra a ditadura ou estivaram ao lado dela podem supor que o governo petista encetará o caminho arbitrário da supressão da liberdade de imprensa. <br /> <br /> Por não ter o devido respeito aos fatos, à verdade da informação, às pessoas, ao presidente Lula e ao Brasil, o jornalista Larry Rohter deu-se o direito de cometer um enorme abuso caluniando, difamando e injuriando a pessoa do presidente Lula. Repita-se, deu-se o direito, porque a legislação brasileira não garante o direito aos jornalistas de difamarem, injuriarem e caluniarem qualquer pessoa. Por isso, essas atitudes são consideradas criminosas e os seus praticantes têm que responder perante a Justiça ao cometerem esses crimes. <br /> <br /> Então, o que está em discussão, antes de tudo, não é um direito, não é a liberdade de imprensa, mas um crime cometido pelo jornalista norte-americano. A matéria que ele produziu foge ao padrão e à praxe do jornalismo. Não se trata de informação, da revelação de um fato sustentado em provas. Além de criminosa, a matéria tem o evidente interesse político de produzir prejuízo político ao presidente Lula e ao Brasil. <br /> <br /> Ferido em sua honra pessoal, ferido em sua dignidade política por ocupar a primeira magistratura do país, conferida pelo povo, o presidente Lula não poderia ficar inerte diante da ofensa e da agressão perpetradas pelo jornalista norte-americano. Ao agredir a honra e a dignidade do primeiro magistrado do Brasil e por se tratar justamente do chefe de Estado e chefe de governo, o jornalista agrediu também a dignidade do País, faltando-lhe o respeito com o nosso povo. <br /> <br /> Acusar esta dedução lógica e política de "patriotada" expressa uma total falta de dignidade e uma deserção do dever de defender a honra e o orgulho do Brasil e de seu povo. Cada país e cada povo têm seu orgulho e é um dever dos representantes eleitos e dos governantes defendê-lo. Supor que essa atitude altiva se reduz a uma "patriotada" demonstra o quanto algumas mentes traduzem no teclado do computador e nas páginas dos jornais sua profunda prostração, colonização e subserviência diante da arrogância e da vileza dos mais fortes. <br /> <br /> O Brasil seria uma República de bananas se o governo não reagisse à agressão perpetrada contra a honra do presidente e à imagem do País. Da mesma forma que o governo brasileiro foi altivo ao exigir simetria nas relações comerciais buscando condenar o subsídio ao algodão norte-americano na Organização Mundial do Comércio (OMC), tem o dever de ser altivo também nas questões políticas, nas questões de honra e de orgulho e nas questões de imagem dos nossos representes e do Brasil no exterior. <br /> <br /> Ao discutir as relações entre ética política e ética religiosa no seu famoso ensaio, "Política como Vocação", Max Weber mostrou muito bem que a ética da política, a ética da responsabilidade, é também uma ética da altivez. Se podemos e devemos praticar o evangelho na vida privada e aceitar com resignação que nos batam numa das faces oferecendo a outra, esta não é uma atitude aplicável na política e na vida pública, ainda mais quando estão em jogo os valores da dignidade e do orgulho do país e de seus mandatários. <br /> <br /> Ao sustentar que a governabilidade do Brasil está sendo prejudicada por abuso do uso de álcool pelo presidente, o jornalista americano não se limitou a caluniar e difamar. Está prejudicando os interesses do Brasil no exterior. Não é a primeira vez que o faz. Buscando minimizar o dano causado à dignidade do presidente e aos interesses do Brasil, as gestões do governo brasileiro junto ao jornal norte-americano não encontraram eco.<br /> <br /> Praticamente inalcançável pela Justiça brasileira por ser estrangeiro, o jornalista americano precisa responder de alguma forma pelo seu abuso e pela sua irresponsabilidade. O que o governo brasileiro fez foi reagir politicamente a uma calúnia e a uma agressão.