30/08/2020
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[ARTIGO] As elites, o golpe contra Dilma e Bolsonaro
O editorial da Folha de S. Paulo do dia (22), uma injustificável ofensa rasteira à presidenta Dilma Rousseff e à verdade histórica, tem o m´rito de escancarar a hipocrisia da elite brasileira, que apoiou o golpe contra Dilma em 2016, embora sem nenhum crime, e o respaldo ao genocida Jair Bolsonaro, a quem deu apoio em 2018 e continua sustentando-o, a despeito do extenso rol de crimes cometidos pelo capitão-presidente em pouco mais de um ano e meio de governo.
Dilma foi vítima de uma campanha sórdida, uma verdadeira sabotagem empreendida por setores da mídia e das elites inconformadas com a quarta derrota eleitoral para o PT na campanha presidencial de 2014. Um projeto que tinha o objetivo de garantir a soberania nacional e a exploração das riquezas nacionais para o bem do povo brasileiro – o petróleo do pré-sal, por exemplo – foi pulverizado com uma campanha midiática sórdida promovida pelos barões da mídia.
Ganância e desigualdade – Como lembrou o ex-presidente Lula, o golpe contra Dilma foi impulsionado pela ganância dos extremamente ricos numa sociedade desigual e injusta. De fato, ocorreu uma manifestação de intolerância dos poderosos diante de qualquer projeto de transformação de uma sociedade arcaica que ainda se inspira nas pérfidas relações entre casa grande e senzala.
As narrativas continuam na mesma toada, para defender um modelo neoliberal cruel, iniciado com o golpista Michel Temer e aprofundado pelo atual governo. Tentar convencer a opinião pública de que Dilma promoveu gastos excessivos é insistir na tecla de que o golpe foi correto.
A ex-presidente mostrou a verdade: a pretensa “irresponsabilidade fiscal” a ela atribuída foi uma sórdida mentira para sustentar o golpe de 2016. Entre 2011 e 2014, as despesas primárias cresceram 3,7% ao ano, menos do que no segundo mandato de FHC (4,1% ao ano), por exemplo. Em 2015, já sob efeito das pautas bombas comandas por Eduardo Cunha e o derrotado Aécio Neves, houve retração de 2,5% nessas despesas.
A verdade dos números – As dívidas líquida e bruta do setor público chegaram, no mandato de Dilma, a seus menores patamares desde 2000. E mais: mesmo com a elevação, em 2015, para 35,6% e 71,7%, devido à crise que precedeu o golpe, elas ainda eram muito menores que no final do governo de Temer (53,6% e 87%) ou no primeiro ano de Bolsonaro (55,7% e 88,7%). Eis a verdade dos números. Como se vê, o noticiário da mídia é seletivo.
Os ataques a Dilma, pela Folha, não vêm de hoje. Torturada, perseguida pelos militares, a ex-presidenta é alvo preferencial do jornal desde sempre. Chegou até a publicar uma ficha falsa do DOPS para tentar atingir a honra da honesta e íntegra Dilma. O mesmo jornal praticamente ignorou a defesa da tortura que o atual presidente fez publicamente .
A realidade é que a situação se agravou a partir de uma conspiração que envolveu agentes externos, interesses econômicos, os perdedores da eleição de 2014 e atores como o partido da Lava Jato em Curitiba, cada vez mais desmascarados pela descarada atuação política para tirar o ex-presidente Lula da eleição de 2018, com tramoias e ações à margem da lei.
Governo genocida – O resultado é que o Brasil se vê hoje nas mãos de um presidente e ministros genocidas, promovendo retrocessos civilizatórios inimagináveis. Do corte de direitos à destruição da imensa biodiversidade da Amazônia e o desrespeito à vida dos povos indígenas, do apoio a milicianos ao desprezo à vida de dezenas de milhares de brasileiros que morrem de Covid-19 em consequência de uma política irresponsável e genocida, o Brasil regride e se transforma num país periférico e sem importância no planeta. Não passa hoje de motivo de piada por conta de um presidente totalmente desequilibrado.
Esses retrocessos têm o dedo da elite brasileira, que mesmo sob o risco de comprometimento do futuro do país prefere apoiar um modelo neoliberal, antinacional e entreguista, o qual indica a privatização de empresas públicas a preços irrisórios, num verdadeiro crime de lesa-pátria.
Privatização criminosa – Fala-se de frases grotescas de Bolsonaro – perigosas, pois induzem seu exército de pessoas robotizadas a agir como bárbaros – mas não se abordam os crimes contra o futuro do país: educação às moscas, militarização de instituições civis, fatiamento criminoso da Petrobras, aceno à privatização de instituições seculares como o Banco do Brasil e CEF, que geram bilhões de lucros à União. A seletividade do noticiário mostra o verdadeiro caráter das elites.
O fato é que a elite está nua. A oposição a Bolsonaro demonstrada por setores da elite é, na verdade, um jogo de faz de conta. No caso de setores da mídia, a movimentação aparentemente é por interesses superficiais contrariados – como o deslocamento de verbas publicitárias – ou uma tentativa de convencer seus leitores e telespectadores que têm um mínimo de posicionamento crítico.
Entretanto, o fulcro da questão não aparece no noticiário: o atual governo é antinacional, antipopular e se move por uma agenda neofascista que só vai aprofundar o o fosso social e a entrega das riquezas nacionais às elites nacionais e ao capital estrangeiro que o apoiam.
*Publicado originalmente no Jornal GGN em 26/08/2020.