16/03/2016

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O golpe não passará

As manifestações do último domingo mostraram a maturidade da democracia brasileira ao mesmo tempo em que deixaram claro o quanto é imperioso revolucionar a prática política. Quando se assiste a manifestantes que pedem o fim de um governo popular vaiar igualmente expoentes de partidos de oposição, que defendem teorias neoliberais, fica transparente que o que está em questionamento é a atual prática política.

A complexidade do sistema democrático pode incomodar setores que não compreendem o seu sentido. Faz-se necessário entender que somente porque vivemos num país que respeita a diversidade de expressão e de opinião, todos os cidadãos que foram às ruas no dia 13 externaram suas opiniões de forma livre. A própria presidenta Dilma Rousseff fez apelo para que tudo ocorresse dentro da normalidade, sem violência, contrariando aqueles que incitaram a desordem como caminho para justificar os seus fins, o golpe.

O que preocupa nas manifestações é certa tendência de radicalização à direita de alguns participantes. Ao assistir pessoas idolatrando políticos e lideranças que pregam o retorno dos militares, é necessário questionar que tipo de sociedade preconizam alguns dos dirigentes desses eventos.

Todo defensor da democracia deve se levantar contra o renascimento do regime de exceção, que expurgou direitos e garantias individuais. O regime que calou vozes. Não podemos permitir que o fascismo tenha vez. Primeiro podem querer abater o PT. Mas não há lugar para ilusão – PMDB e PSDB também sucumbirão numa eventual debandada rumo ao autoritarismo. Exemplo disso foram as vaias recebidas pelo tucanato em pleno coração do PSDB, a Avenida Paulista. Da mesma forma, estrelas da direita foram vaiadas na Bahia e em outros recantos. Esses fatos mostram que a política está sendo atacada por grupos que não convivem bem com a democracia, pois flertam com práticas condenáveis de estados totalitários.

O perfil dos participantes dos atos de domingo também é importante para tentar entender quem faz apelos pelo fim de um governo legitimamente eleito e, no limite, até a volta de regimes autoritários. De acordo com levantamento encomendado pela Folha de S. Paulo, dos 2.262 entrevistados na Avenida Paulista 61% ganham entre cinco e 50 salários mínimos. No município de São Paulo, 23% se encaixam nessa faixa de renda. Constatou-se ainda que 24% ganham acima de dez, e 13%, de 20 mínimos.

Os brancos foram predominantes, alcançando quase oito em cada dez participantes, mesmo número dos que têm escolaridade superior. Por óbvio que eles têm total direito de se expressarem como queiram. Mas chama a atenção o fato de as classes C,D e E serem praticamente inexpressivas nessas mobilizações. Isso decorre do fato de que as políticas públicas dos governos de Lula e Dilma alcançaram milhões de brasileiros até então excluídos. Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Pronatec, Mais Médicos e ProUni são exemplos de programas bem sucedidos que atendem milhões, justamente os que não foram às ruas no dia 13. E que, em boa parte, deverá apoiar a democracia no dia 18, em ato convocado contra o golpe.

Tudo isso não deixa dúvidas, é preciso reinventar a política. Deixar a mesmice de lado e “pensar fora da caixa”, como propõe o ex-presidente do STF Carlos Ayres Britto, em entrevista à revista Época e à rádio CBN nesta semana. É fundamental retomar o diálogo com a sociedade, com a oposição, com todos os agentes sociais, no intuito de estabilizar a economia e buscar o equilíbrio institucional. Não podemos permitir que a direita conservadora implante seus projetos obscuros, com a finalidade única de violar os direitos à liberdade e à democracia, conquistados com muita luta por muitos que se dedicaram a garantir o Estado Democrático de Direito. Mas o golpe não passará.